Esta prática permanece até hoje em dia nas sociedades científicas modernas.
Embora o século anterior tenha sido caracterizado por uma postura mais científica relativa aos fenômenos químicos, com intensificação das idéias atomísticas e mecanicistas, sòmente no século XVIII são formuladas teorias gerais para explicar o fenômeno da combustão e o da afinidade química.
Apesar da aceitação generalizada destas idéias os conceitos relativos às causas da combustão e das reações químicas eram muito nebulosos.
Os químicos ainda não tinham abandonado de todo as antigas idéias dosalquimistas que, refletindo os conceitos aristotélicos, consideravam as substâncias como uma mistura de elementos, entre os quais o fogo associado à combustão.
Os iatroquímicos ainda gozavam de grande influência, principalmente no continente europeu e, particularmente, na Alemanha.
As idéias de Paracelso relativas aos elementos foram adaptadas por Johann Joachim Becher (1635-1682) para explicar a combustão das substâncias, inclusive as orgânicas, nas quais tinha muito interêsse.
Considerava como elementos a água, a terra e o ar.
Supunha que as substâncias possuiam três variedades de terra chamando-as de terra vitrificável (correspondia ao sal de Paracelso), terra mercurial (mercúrio, de Paracelso) e terra combustível ou gordurosa (terra pinguis) (enxofre de Paracelso).
Quando uma substância era queimada a terra pinguis era liberada deixando um resíduo de cinzas.
Desta forma Becher explicava a combustão de matéria orgânica, madeira, por exemplo.
Seu discípulo, o médico Georg Ernst Stahl (1660-1734), influenciado por idéias da metalurgia estendeu os conceitos de Becher aplicando-os aos sistemas inorgânicos e particularmente aos metais.
Deu o nome de phlogiston (queimado, em grego) à substância que era liberada na combustão deixando um resíduo.
Seu conceito de combustão era amplo: a corrosão de um metal no ar era considerada uma espécie de combustão em que havia formação de um resíduo de cal e desprendimento do flogisto.
Considerava, errôneamente, que o ar não tomava parte na combustão, servindo sòmente para receber o flogisto que se desprendia da substância.
A teoria do flogisto teve considerável influência entre os químicos tendo se tornado, até o fim do século XVIII, uma das principais teorias da química.
Explicações engenhosas mostravam que o cal podia absorver flogisto do ar, ou das plantas, ou do carvão, recompondo a substância original.
Como o carvão vegetal reduz o cal (óxido) ao metal o carvão possuiria muito flogístico.
Entretanto, medidas do pêso, das substâncias metálicas antes e depois da combustão, mostravam que o pêso aumentava com a saida do flogisto.
Com as substâncias orgânicas ocorria o contrário: o pêso diminuia.
Tais fatos contraditórios não eram levados em conta por Stahl que considerava o flogisto como um integrante não material encontrado nos corpos.
De fato, a variação de pêso das substâncias presentes numa reação química não era relevante para os químicos desta época, embora tal fenômeno já tivesse sido observado por van Helmont, Jean Rey e Robert Mayow.
Alguns químicos acreditavam que a perda de pêso na combustão era devido ao fogo (um dos quatro elementos de Aristóteles), de natureza leve e sempre presente nos corpos ; outros, que o aumento se devia à absorção de parte da chama ou do calor.
Na realidade havia tantas interpretações quanto químicos mas a teoria do flogisto com suas inconsistências tornou-se popular porque (aparentemente) encontrava confirmação na experiência.
A lei da atração universal, descoberta por Newton, e seu sucesso na explicação do movimento dos corpos celestes, levou os químicos a procurar explicar o “amor” ou o “ódio” observado entre as substâncias nas transformações químicas.
Assim foram levados a supor ação atrativa semelhante entre as partículas constituintes da matéria.
Afim de racionalizar estes conceitos em termos concretos começou-se a estudar sistemáticamente a afinidade das substâncias umas pelas outras.
Em 1718 Etienne-François Geoffroy (1672-1731) publica uma tabela com observações experimentais da afinidade química de várias substâncias e chega à conclusão que se duas substâncias estão unidas por afinidade a presença de uma terceira que tenha afinidade maior por uma delas provocará a separação e o isolamento da outra.
A sua tabela contém dezesseis colunas contendo os símbolos que eram usados para representar as substâncias e linhas horizontais onde estão classificadas em ordem decrescente as afinidades observadas com várias substâncias.
Assim, na coluna do mercúrio, aparecem em ordem decrescente de afinidade o ouro, a prata, o chumbo, o cobre, o zinco e o antimônio.
Esta tabela foi ampliada, em 1775, para cinquenta e nove substâncias, por Torbern Bergman (1735-1784), um químico sueco, havendo uma para substâncias que reagiam em solução e outra para as que reagiam por fusão.
Embora puramente qualitativos os resultados desta sistematização forneceram um caminho para determinações quantitativas que se tornavam frequentes nos estudos químicos ao longo deste século.
Embora já se tivesse procurado determinar a quantidade de base necessária para neutralizar ácidos diversos, sòmente em 1781, com Richard Kirwan (1733-1812), associou-se uma quantidade pesada de base à outra de ácido como medida da afinidade.
Esta tendência levou ao estabelecimento do conceito de equivalente químico no século seguinte.
A tendência de utilização da balança nas medidas quantitativas passou a vigorar à medida que novos compostos e novas reações químicas eram descobertas.
A análise das substâncias, tanto qualitativa quanto quantitativa, passou a ser comum.
O uso de soluções passou a ter grande importância (análise úmida) pela sua praticidade, à temperatura ambiente, comparada com o método tradicional que envolvia destilações e fusões à altas temperaturas (análise à seco).
Este último tornou-se muito importante na geologia, e nos estudos de minerais, sendo utilizado no campo para testar amostras.
Por exemplo, A.F. Cronstedt (1722-1765) utilizando um pequeno maçarico descobriu um minério poroso novo que se decompunha formando bolhas de líquido.
Por esta particularidade denominou-o de zeólita ou “pedra que ferve”.
O aperfeiçoamento dos métodos de análise química, com procedimentos mais apurados e uso criterioso da balança, permitiu a descoberta de novas substâncias nos minerais que eram analizados.
As de natureza metálica, mais tarde reconhecidas como elementos, foram o cobalto (1735), a platina (1740), o zinco (1746), o niquel (1754), o bismuto (1757), o manganês (1774), o molibdênio (1781), o telúrio (1782), o tungstênio (1785) e o cromo (1798) ; as de natureza não metálica eram óxidos de metais como o titânio, estrôncio, zircônio e itrio.
A atividade dos químicos levou à muitas outras descobertas importantes:
compostos orgânicos ácidos, ácido fluorídrico, álcoois, ácido cianídrico, etc..
No começo do século, um professor de medicina e química, de renome, Hermann Boerhaave (1668- 1738), autor de um livro muito influente, o Elementa Chymia, acreditava, como Boyle anteriormente, que em certas circunstâncias o ar tomava parte na combustão.
Considerava que o fogo era uma substância que tinha pêso.
Seria ele constituido de partículas muito pequenas que podiam penetrar nos materiais e alterar a força de atração entre suas partículas constituintes.
Esta absorção das partículas de fogo dependia da afinidade delas com as partículas do material.
Assim, na calcinação, o aumento de pêso que se observava seria devido ao fogo absorvido.
Boerhaave acreditava que, além do fogo, o calor também era um tipo de substância, opinião aceita por muitos de seus contemporâneos